Será que vem aí inflação mais alta a frente?
Nos últimos meses temos visto os governos de vários países tomarem medidas para tentar defender a economia de seus países contra os efeitos danosos da pandemia de COVID-19. Apesar desse esforço ser válido, já vimos no passado que quando algumas dessas medidas são tomadas em conjunto acabam gerando uma inflação mais alta a frente.
No caso específico do Brasil, durante o período de pandemia do corona vírus, o governo federal tomou as seguintes medidas:
Impressão de mais dinheiro em papel
Em Julho/20 o Banco Central do Brasil informou durante o lançamento da nova nota de R$200 que seriam impressas 450 milhões de notas de R$200 e mais 170 milhões de notas de R$100. Isso dá um valor total de R$107 bilhões de Reais a mais em circulação na economia além do dinheiro que já estava em circulação na forma das demais notas e moedas.
Somente durante a pandemia a quantidade de dinheiro em papel e em moedas liberadas para o público aumentou R$61 bilhões de Reais (isso antes do lançamento da nota de R$200).
Emissão de títulos de dívida
Para cobrir os gastos federais com a pandemia, financiar os empréstimos e auxílios aos Estados e Municípios e cobrir as isenções fiscais e reduções de alíquotas de impostos que foram dadas às empresas nesse período, o governo federal emitiu mais títulos de dívida pública (tanto pelo Tesouro Direto quanto títulos no exterior). Em Julho/20 o total de gastos não previstos no orçamento 2020 já estava em mais de R$520 bilhões de Reais.
Além da emissão de títulos de dívida, já foram feitos vários empréstimos com bancos multilaterais extrangeiros e agências de desenvolvimento internacionais. Somente em Maio/2020 foram recebidos US$4 bilhões de Dólares dessa forma.
Implantação do auxílio emergêncial à uma boa parte da população
Somente o auxílio emergencial pago à uma parte da população injetou na economia R$200 bilhões de Reais até Setembro/2020. A previsão é de que sejam injetados mais R$54 bilhões de Reais via auxílio emergencial até o final do ano.
Liberação de saque emergencial do FGTS para todos os trabalhadores
Em Junho/20 começou a liberação escalonada de saques do FGTS para todos os trabalhadores que possuiam saldo no fundo. A previsão é de que quase 61 milhões de pessoas aproveitassem essa oportunidade e de que mais de R$36 bilhões de Reais fossem sacados e injetados na economia.
Suspensão de cobrança de dívidas
Foram suspensos:
- Pagamentos de financiamentos do setor de habitação popular;
- Cobranças de dívidas com a União;
- Exclusão de parcelamentos por motivo de inadimplência;
- Vencimento do pagamento de parcelas de crédito de operação rural;
- Aumentos de tarifas de serviços públicos.
Lembrando que esses itens não foram cancelados, apenas suspensos temporariamente. Então voltarão a vigorar no futuro.
Liberação de crédito para empresas
Foram liberados:
- Crédito extraordinário de R$12 bilhoes de Reais para micro e pequenas empresas;
- Crédito de R$40 bilhões de Reais para pagamento de folha salarial ou verbas trabalhistas;
- Crédito extraordinário para as apoio às distribuidoras de energia elétrica no valor de R$16 bilhões de Reais.
Ainda tem os fatores externos!
Não podemos esquecer também que em 2020 a demanda internacional por produtos agropecuários disparou. A muito tempo que o preço da soja, do algodão, do arroz e da carne bovina e suína esteve tão bom no mercado externo quanto em 2020! Isso trás dois fatores:
- Mais exportações = Maior entrada de dinheiro no país
- Mais exportações = Menor disponibilidade desses produtos no país
E tem a valorização do Dólar!
Durante o ano de 2020 o Real sofreu uma grande desvalorização em relação do Dólar dos EUA. Isso ocorreu devido basicamente a dois fatores:
- A chegada da pandemia de COVID-19 que fez com que investidores externos fugissem para países considerados mais seguros para investir durante crises.
- Dificuldades do atual governo federal em aprovar reformas e medidas prometidas em campanha eleitoral, isso somado a problemas internos do próprio governo (demissões de ministros importantes) e atritos com o Congresso, os governadores e o STF.
Onde fica a inflação nessa história?
Como visto acima, a quantidade de dinheiro injetada diretamente na economia é gigante, o que nos leva às seguintes análises:
- No passado já vimos em outros planos econômicos que quando existe um excesso de dinheiro circulando na mão da população, ele tende a perder valor. E dinheiro perdendo valor é igual a inflação.
- Quando há aumento da demanda de produtos (neste caso devido às exportações), o preço deles tende a subir. E preço subindo é igual a inflação.
- Quando um governo emite títulos de dívida ou pega dinheiro emprestado, ele tem que devolver pagando juros. E pagamento de juros leva a aumento de gastos, que leva a aumento de impostos e que leva a aumento de preço de produtos e serviços, ou seja, inflação.
- Quando há liberação de créditos para as empresas, elas têm que pagar de volta com juros. E pagamento de juros leva a aumento de preços de produtos e serviços, ou seja, inflação.
- Quando há suspensão de aumento de tarifas de serviços públicos, eles são suspensos por um determinado tempo. Após isso o aumento acumulado será repassado ao consumidor. E aumento de tarifas públicas leva a aumento de preços de produtos e serviços, ou seja, inflação.
Conclusão
A inflação no país pode subir por motivos políticos (vide a campanha eleitoral que levou o presidente Lula ao poder em 2003 ou o momento que antecedeu a queda da presidente Dilma em 2015/2016), motivos externos (vide a crise subprime dos EUA em 2007/2008) ou por motivos econômicos.
Por mais inesperado que isso fosse, em 2020 todos esses fatores apareceram ao mesmo tempo (crise política interna, guerra comercial externa EUA-China, cinco fatores econômicos juntos que favorecem subida de preços) e ainda com uma pandemia de escala anormal!
Tudo isso me leva a acreditar que em breve a inflação voltará a subir como aconteceu por último em 2016.
Portanto, estou fora de investimentos pré-fixados por agora. Se for para buscar algo mais conservador, vou de títulos do tesouro direto atrelados aos IPCA (inflação oficial).